O Mapeamento Sonoro e Criativo de Lisboa, a que chamamos ESCALA, e que se inicia na Freguesia da Misericórdia, é um programa inovador com uma vocação sociocultural forte e com o objectivo de ligar pessoas e lugares na cidade. Neste aspecto, a curto/médio prazo queremos que se torne, também um programa de responsabilidade social e de intervenção cultural, no seu sentido mais abrangente, ajudando a ligar pessoas e lugares dentro dos múltiplos centros urbanos de Lisboa.
O ESCALA é fundado na ideia da escuta, criatividade e comunidade, apostando na promoção de novos encontros e vivências nos bairros, freguesias e na transformação de percursos rotineiros em acções mais dinâmicas e conscientes. Neste sentido, propusemo-nos a desenhar um projecto inovador, atento às necessidades humanas da vida urbana actual, que está cada vez mais fragmentada e mais acelerada. Temos o privilégio de ter como parceira neste projeto a NOVA IMS que, desde o início, nos ajudou a pensar o desenho do ESCALA trazendo metodologias de trabalho inovadoras e ágeis. Em conjunto com a NOVA IMS e com outros parceiros locais, queremos ser promotores de novos modos relacionais enquanto participamos colaborativamente no desenho e na expansão deste projeto.
A estrutura organizativa assenta no cruzamento de vários saberes, tal como tem sido prática comum nos quase 30 anos de actividade da Sons da Lusofonia. Através de um modelo de governança partilhada, queremos promover a construção de um projeto passível de novos inputs e renovações.
Neste enquadramento, a ideia de trabalho com e para as pessoas, passa por promover o reconhecimento de “pontos de cultura e criação”, de ambientes sónicos nos bairros, com impacto local, através de um processo de mapeamento onde valores como a criatividade artística e social, a justiça acústica e a cidadania estarão sempre presentes.
Ao longo do tempo, prevemos desenvolver acções públicas paralelas, que dêem visibilidade às diferentes culturas e comunidades na cidade, sem as guetizar, ajudando a pensar a cidade como um grande mapa afectivo e criativo com vários mapas dentro. Desta forma, queremos fomentar uma rede onde as paisagens sonoras, a arte e as indústrias criativas possam andar de mãos dadas, estimulando sinergias criativas a par da inclusão e da cidadania.
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O princípio que nos leva a propor esta ideia resulta da junção de duas forças de trabalho centrais na Associação Sons da Lusofonia. Por um lado, temos as artes performativas na sua expressão livre e cuidada, como plataforma multicultural para a criatividade social inspirada no ADN de Lisboa. Por outro, o trabalho sociocultural e pedagógico desenvolvido com as comunidades ao longo dos anos, como forma de trabalhar a cidadania e a responsabilidade social através da cultura e da escuta. Como ponte entre estes dois trabalhos, notamos que faltam espaços, físicos e virtuais, que promovam encontros, aproximações e cruzamentos entre pessoas e instituições de diferentes lugares da cidade. Neste sentido, o ESCALA pretende ser um projecto agregador e solidário ligando pessoas, programas culturais, ambientes sónicos e ideias.
Ao mesmo tempo, numa altura em que Lisboa recebe visitas de pessoas de todos os quadrantes, poderemos contribuir para um novo mapa de Lisboa criativo e dinâmico, mas também permeável e integrador. Deste ponto de vista, pode também assumir-se como uma ferramenta diferenciada para abordar a cidade turística, através de contributos mais diversos mas mais orgânicos mantendo o ADN lisboeta e acima de tudo a presença dos lisboetas. Desta forma, o projeto vai trabalhar em duas relações de escala: uma local/contextual e outra translocal. Se por um lado o local pode beneficiar de contributos exteriores para a promoção e preservação dos particularismos presentes em cada local, por outro, a criação de redes e pontes com outros lugares, permite gerar diálogos que podem ajudar a expandir e a enriquecer esses particularismos.
Assim, mais do que um repositório de informações avulsas ou uma base de dados isolada, queremos ajudar a promover experiências diferenciadas alimentando essa tal rede aberta e democrática de inclusão, de visibilidade e de acesso cultural.
A cidade de Lisboa é marcada por uma grande diversidade de manifestações artísticas e socioculturais. É nos territórios, que se podem criar pontos de ligação e cruzamento dessas linguagens, criando novas possibilidades de interacção cultural e artística e novas práticas de cidadania. O ESCALA quer contribuir para este processo de recomposição da cidade e de criação de novas formas de vida em conjunto, bem como ajudar a identificar oportunidades e desafios urbanos que sirvam para apoiar uma governação da cidade mais justa e sustentável.
As sementes estão lançadas. Convidamos todos a participar neste projeto, contribuindo para fomentar novas dinâmicas culturais e sociais nos territórios. Pelo direito à cidade e a vidas mais saudáveis e criativas.
Carlos Martins,
Presidente da Associação Sons da Lusofonia
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Uma abordagem de Design Thinking ao mapeamento sonoro da cidade.
Na agitada paisagem de um ambiente urbano, a multiplicidade de sons e ritmos a que estamos expostos moldam as nossas experiências diárias de forma profunda, mas muitas vezes despercebida. No Nova Innovation & Analytics Lab, um laboratório de design thinking e inovação, da Nova Information Management School, temos como mote estabelecer parcerias improváveis, que nos permitem aprender sobre diferentes temas e promover os princípios da “Inovação Centrada nas Pessoas”. Temos assim o privilégio de estabelecer uma colaboração única com a Associação Sons da Lusofonia que pretende aproximar os princípios do design thinking e a arte do mapeamento sonoro e criativo da cidade, com o objetivo último de cultivar uma relação mais profunda e empática com as comunidades onde estamos inseridos.
Aprendemos a reconhecer que o som da Cidade não é apenas ruído, mas uma fonte rica de inspiração que conta histórias de lugares, tradições e interações humanas. A abordagem escolhida para este projeto assenta numa metodologia muito utilizada no design thinking conhecida como etnografia móvel, adaptada neste contexto para mapear a paisagem sonora dos bairros.
A etnografia móvel permite que os indivíduos se tornem observadores activos e participantes no seu ambiente. Ao equipar os participantes com dispositivos de gravação simples - sejam smartphones ou gravadores de som dedicados - convidamo-los a embarcar numa viagem auditiva pelos seus bairros, captando os sons que definem o seu quotidiano e o seu ambiente.
Através deste processo, os participantes constroem pontes através do mapeamento sonoro, indo para além de uma observação superficial e ligando-se à essência da sua comunidade. O ato de mapear o som promove a empatia, encorajando os indivíduos a ouvir atentamente, a compreender as nuances do seu ambiente e a apreciar a diversidade que define os seus espaços partilhados.
Com base nos princípios do design thinking, a nossa colaboração promove a exploração iterativa e o foco no ser humano. Não nos limitamos a mapear sons; descodificamos narrativas, descobrimos necessidades latentes e desenhamos oportunidades para uma mudança positiva nas comunidades. Esta abordagem transcende a recolha de dados tradicional; é um catalisador para o diálogo, um meio para a expressão cultural e uma ferramenta para a comunidade e decisores políticos criarem ambientes urbanos mais inclusivos.
Ao envolver os residentes como co-criadores das suas paisagens sonoras, damos-lhes a possibilidade de articular a sua identidade e as suas aspirações através da linguagem universal do som. Este esforço partilhado não só enriquece a nossa compreensão da dinâmica da comunidade, como também amplifica as vozes que muitas vezes não são ouvidas, ampliando também o espírito de inclusão e colaboração.
À medida que continuamos a aperfeiçoar as nossas metodologias de inovação e de criação de empatia, imaginamos um futuro em que o mapeamento sonoro e criativo da cidade se torna parte integrante do planeamento urbano e das estratégias de envolvimento da comunidade. Através desta fusão de design thinking e da exploração sonora, pretendemos ajudar a construir comunidades participativas e empáticas, onde cada voz é ouvida e cada som conta uma história.
Partilhe connosco esta jornada de descoberta e transformação. Juntos, vamos ouvir, aprender e inovar para criar cidades onde o som de cada espaço reflecte o pulsar e a visão da sua comunidade!
Guilherme Vitorino
Coordenador do Innovation & Analytics Lab da NOVA IMS